BENTO XVI e O ABORTO

Bento XVI repete o desastre Clare Boothe Luce

Pedro do Coutto-

http://www.tribunadaimprensa.com.br/?p=12731&cpage=1#comment-31154

Reunido quinta feira em Roma com bispos brasileiros, o Papa Bento XVI recomendou aos dignitários religiosos que intervenham no desfecho eleitoral de domingo, no sentido de que as urnas tornem vencedor um presidente da República que possua posição definida contra o aborto. Não quanto à prática, já que ninguém pode ser favorável a ela, não teria a mínima lógica tal hipótese. Mas contra o posicionamento de retirar a interrupção da gravidez do Código Penal.

Com tal atitude surpreendente, o Cardeal Ratzinger intrometeu-se na política interna de nosso país e tacitamente desconheceu a diferença entre o Estado e a Igreja de Roma. Criminalização não pode ser tema religioso. Pertence à legislação civil. O Catolicismo não é religião oficial entre nós.

O alvo visado pelo Vaticano, assim, inegavelmente foi a candidatura Dilma. Claro. Em primeiro lugar porque, há tempos atrás, manifestou-se em favor de que o aborto não seja incluído no rol dos crimes.Em segundo lugar, o tema preocupou o Papa. Se não preocupasse, não haveria necessidade de se dirigir ao clero nacional como se dirigiu. Foi um desastre.

Ontem, O Globo, O Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo, publicaram pesquisas atuais do Ibope e Datafolha. O Ibope assinalando uma vantagem de 13 pontos para a ex-chefe da Casa Civil. O Datafolha de 12 pontos. Convergiram, como se constata. Foram feitas antes do pronunciamento papal. Tornou-se portanto fácil conferir seu reflexo nas urnas.

Na minha opinião o gesto não altera nada. Talvez até proporcione mais alguns pontos a Rousseff. Isso porque é difícil aceitar, sem reação, a ingerência estrangeira nos destinos brasileiros. Afinal de contas, o Vaticano é um Estado. E o Papa, além de representar a face da religião, é o chefe político desse Estado. É possível até que a investida termine se transformando em fator contrário ao pretendido. Episódio semelhante, desastroso, por sinal, aconteceu em Roma, 1948, nas eleições parlamentares italianas. A embaixadora dos EUA, Clare Boothe Luce, mulher do magnata de imprensa Henry Luce, proprietário das revistas Time, Life, Fortune, compareceu a um comício da Democracia Cristã em favor do primeiro-ministro De Gasperi (não confundir com o jornalista Elio Gáspari, também italiano).

A luta entre o PDC, de um lado, e os Partidos Comunista e Socialista, de  outro, estava polarizada e radicalizada. Foi um desastre a atitude. A Democracia Cristã perdeu as eleições. O presidente Truman a demitiu sumariamente no dia seguinte. Mais tarde em 1959, foi indicada embaixadora no Brasil pelo presidente Eisenhower. Os senadores Wayne Morse, do Texas, e Mike Mansfield, de Massachussetes, lideraram uma campanha fortíssima contra Clare Boothe, cuja indicação acabou rejeitada.

Naquele instante encerrava-se também sua carreira diplomática. Em represália, Henry Luce colocou a face de Wayne Morse na capa da Time com o corpo de um cavalo. A legenda continha uma palavra: Incitatus. Incitatus foi o cavalo que o imperador Calígula colocou no Senado Romano, enfurecido com a derrota que lhe foi imposta em projeto de sua iniciativa. O episódio pertence ao passado e à História. Aliás os dois episódios, o do imperador e o da embaixadora. Mas estamos diante de um terceiro: a intervenção absurda e desnecessária do Papa Bento XVI no desfecho de domingo. Vamos conferir o seu efeito. Pode ser até que seja nenhum.

Vejam – www.escolasensitivista.blogspot.com

Helio Fernandes | Geral | 14 comentários |

14 comments to Bento XVI repete o desastre Clare Boothe Luce

outubro 31st, 2010 at 6:57

Se o bispo Macedo pode, o Papa também pode!

Restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!

  • Paulo Solon

outubro 31st, 2010 at 8:04

Prezado Pedro. Tinha dado pausa a meus comentários políticos. Quando o assunto é intromissão da religião na política, no entanto, compartilho com sua justa indignação.
Não dá para ficar alheio.
Sempre achei que a religião é uma praga, mesmo quando permanece, ou finge permanecer, alheia às atividades políticas. Mas com a militância do frade Crivella e do arcebispo Edir Macedo e sua permanente intromissão na política, é evidente que os bispos católicos não iriam deixar de interferir, puxando a brasa para a sardinha deles. É assim que me vi incentivado a reler a obra de Christopher Hitchens ‘deus não é Grande’ (como a religião envenena tudo).
Está precisando que surja entre nós um novo rei Asoka, neto de Chandragupta, o monarca que conseguiu apoio de chefes tribais no sentido de realizar o sonho indiano sem o auxílio da cultura grega. Justamente no tempo de Alexandre o Grande, ele construiu um império no norte da India e ficou apto (303 A.C.) a atacar Seleucus I no Punjab e expulsar os últimos vestígios do poder Grego e daquela multidão de deuses para fora da India. Seu neto Asoka, em 264 AC se viu como supremo mandatário do Afeganistão a Madras. Nos tempos de Isaias na terra hebráica, Asoka percebeu que as religiões, monoteéitas ou politeístas, interferiam com a política. Com exceção do Budismo, o qual era considerado apenas filosofia. Asoka beneficiou ordens budistas, mas enviou missionários para o Kashmir, Ceilão e Alexandria. No entanto, a mais alta e mais privilegiada casta no corpo social da India era composta pelos Brahmins, que se opuseram à franca e risonha propagação do Budismo, quando Asoka já estava em idade avançada. Os velhos e monstruosos deuses e os inumeráveis cultos do Hinduísmo reassumiram seu rumo.
Por longos séculos Budismo e Bramanismo floresceram lado a lado e lentamente o Budismo entrou em decadência no país em que foi criado por Siddhattha Gautama Buda. Mas se espalhou para China e Ceilão e Burma e Japão. países em que é predominante até hoje.
A interferência do Pontífice Romano em assuntos internos de nossa nação é absolutamente odiosa, concordo plenamente com você.
Mas qualquer religião deveria ser banida.

  • Paulo Solon

outubro 31st, 2010 at 8:38

Isaias, citado no meu comentário anterior, foi aquela figura trágica que declarou para os hebreus que o ser humano é sempre pecador, ainda que não cometa faltas. Que seu reto caráter e sua ilibada conduta nada mais são que ‘trapos’. Nascemos pecadores e vamos morrer pecadores.
Nada falou a respeito dos seres equineos, dos galináceos e de outros seres.
Segundo o “profeta Isaias”, hoje o Brasil está fazendo escolha entre dois trapos.

  • Antonio Claudio

outubro 31st, 2010 at 10:43

Bravo PEDRO! Concordo inteiramente. Idem com o comentário do Paulo Solon. Ao Marcelo, lembro que a Igreja Universal não é ESTADO. Diferente do VATICANO.

  • Aurelio Miranda (80)

outubro 31st, 2010 at 11:16

Bento XVI é o cardeal que se imPõs como candidato e se tornou papa. Como chefe de estado é de bom tom não intervir em assuntos que digam respeito a outros governos. Lula ainda é governo e, imprudente como é, poderá ser incentivado a dar um pitaco em questões relativas ao Vaticano. O que diria Bento XVI?

  • LEONARDO PEREIRA

outubro 31st, 2010 at 11:16

QUE TAL ENFRENTARMOS O ABORTO?

A temática do aborto, que deveria ultrapassar a superficialidade e o oportunismo do período político-eleitoral, merece um tratamento mais sério e firme por parte da sociedade e tentar escapar, assim, do lugar comum da omissão e da passividade que dominaram os debates da população nas ruas e que tendem a ser petrificadas a partir de depois de amanhã, assim como toda o tratamento sem profundidade que é dado aos demais temas de tão elevada importância.

Sou homem e acredito que uma mulher certamente falaria muito melhor sobre o assunto, mas tenho alguma experiência pessoal sobre ele, assim como muitos devem ter, desde o meu próprio nascimento, absolutamente indesejado diante das circunstâncias de extrema pobreza e de absoluta reprovação moral na sociedade retrógrada da época, mas não finalizado como aborto nos últimos minutos; assim como da minha própria irmã, abandonada pelo namorado diante da notícia da gravidez e junto com quem fui morar numa favela com meu salário para sustentá-la e ao meu sobrinho, que cresceu e hoje é a nossa maior alegria e a renovação da vida e da esperança em seus encantadores sete anos.
Pessoalmente sou contra o aborto, considero-o uma crueldade indiscutível contra a vida do feto e o organismo da mãe, tanto por parte de todos os que participam dele quanto por parte da sociedade e das autoridades que acabam se omitindo.

Ninguém em sã consciência poderia avaliar o aborto como um método contraceptivo aceitável. Ainda que não nos importássemos com as vidas e a real complexidade das situações e sentimentos envolvidos, concluiríamos que os métodos anticoncepcionais abortivos são os mais caros, invasivos e traumáticos e que há em nossos dias inúmeras alternativas, tanto de prevenção quanto de solução para a situação de uma gravidez circunstancialmente indesejada.

O caminho da omissão, da não discussão ou do oportunismo superficial e instantâneo sobre o tema, para deixar tudo exatamente da forma que está, revela, na minha humilde opinião, uma falta de sinceridade de propósito, pois não basta a previsão legal acerca da sanção diante de uma prática de constante hipocrisia e de multiplicação de clínicas abortivas e de outros métodos veladamente acobertados e que permitem a continuação da crueldade tão mais sentida pelas populações de mais baixa renda.

Já a passividade representada pela simples descriminalização, apesar de seus argumentos inicialmente protetivos em relação às mulheres em situação de desespero e de destruição psíquica e social, também não me parece ser tão simples quanto a sua discussão atual tem direcionado e não ataca de maneira firme a verdadeira raiz do problema. Amar o ser humano criminoso não pode significar a concordância ou o incentivo a um crime tão cruel contra outro ser humano muito mais indefeso.

Não há uma resposta mágica para o problema, mas há uma necessidade urgente de que a nossa sociedade, da qual nossos representantes são partes e simbolizando as opções da maioria, mas sem jamais poderem desrespeitar os princípios que regem e incentivam a valorização das minorias, pare de olhar apenas para os interesses dominantes e “para o próprio umbigo” e discuta e ataque a grave questão que também é de saúde pública, mas se sobressai a ela, de maneira firme, criteriosa, livre de preconceitos e com o propósito sincero de proteger a vida humana em todos os seus momentos.
Pareceria contraditório alguém dizer que defente a vida sem lutar por condições dignas de vida para que ela possa ser protegida através da saúde para o seu pleno gozo e sua preservação desde o feto até o mais idoso, do respeito mútuo, da prevenção e da precaução com relação aos produtos e aos procedimentos nocivos a ela, do combate absoluto e inegociável ao tratamento degradante e diferenciado da vida humana, que tantas vezes é suprimida e subvalorizada pelo dinheiro, pela busca incontrolável pelo poder e seu exercício arbitrário em defesa de interesses pessoais, de grupo e institucionais, bem como pelas paixões e pela vaidade.

Esse é o tipo de tema que não pode ser abandonado pela sociedade e apenas lembrado em épocas esporádicas e passageiras, mas a sua solução, na minha opinião, deve passar pela disseminação e pela plena acessibilidade aos métodos contraceptivos, inclusive através de quebras de patentes nos casos dos anticoncepcionais mais sofisticados e caros, necessários principalmente às mulheres que sofrem mais com os efeitos colaterais que podem advir daqueles de uma geração anterior e consequentemente mais baratos; vontade, firmeza e coragem para combater aqueles que promovem abortos diariamente de maneira precária, irresponsável, e veladamente acobertada e que matam tantas mulheres em situações de desespero; acompanhamento e assistência máxima às mulheres grávidas, dando-lhes suporte social e psicológico para que possam ter condições de exercer essa importante função; estímulo às famílias, preservando o seu valor antes do capital e redução das desigualdades sociais através do aumento das oportunidades de capacitação e das perspectivas de crescimento e de realização pessoal; desburocratização responsável, eficiente e criteriosa dos processos de adoção, para as muitas famílias que desejam ter um filho e, sobretudo, evolução dos próprios valores da sociedade, que precisa vencer os preconceitos e as soluções aparentemente fáceis, para enfrentar os problemas e promover a defesa da vida de forma completa.

LEONARDO FLORENCIO PEREIRA

leonardoflorenciopereira@gmail.com

  • emerson57

outubro 31st, 2010 at 11:23

esse padre que cuide da sua igreja,
do brasil nós cuidamos.
com a ajuda da dilma.
abraço.

  • Aurelio Miranda (80)

outubro 31st, 2010 at 11:24

A proposito, e Bento XVI mantém-se silente ante as atidudes do “padre” Marcelo Rossi, emérito praticante da “venda de indulgências” que afastou Lutero da igreja católica? Da “obra social” desse “padre” megalomaniaco só tenho noticia da construção do templo que pretende erguer em s.Paulo… Nada mais.

  • José Antonio

outubro 31st, 2010 at 13:34

Deixe de bobagem, Pedro. Ratziger pode e deve dizer aos seguidores da igreja de Roma qual o caminho a seguir. É o papel dele. Ao clero cabe obedecer. E ao legislador ponderar, desde que o povo brasileiro responda significativamente ao apelo da Igreja.
Você tem a mentalidade da censura. Quer ver calados aqueles que não dizem o que você quer ouvir. Discorde do Papa, mas não o chame de intrometido nem pretenda que ele se cale para não incomodá-lo nas suas crenças ou descrenças.

  • Sérgio Russo

outubro 31st, 2010 at 13:46

Benedito 16 agoniza. Tenho noticias de que em abril de 2011 o Vaticano responderá criminalmente nos EUA por dificultar a ação da justiça no caso dos padres pedófilos.
Todos as religiões estão em fase terminal. Agarrar-se aos governos fracos emitindo opiniões como velhas caducas é o que lhes restam nesse final dos tempos de Apostasia.
Cristianismo verdadeiro isso não conhecem, ainda.

  • Luiz

outubro 31st, 2010 at 20:21

Presidente Ratzinger, porque não te calas ?
Créditos a quem de direito (ou da direita…)

  • Hilda

outubro 31st, 2010 at 22:11

Queridos, a Igreja Universal jamais se intrometeu em questões de Estado,muito menos chegando ao ponto de fazer panfletos apócrivos denegrindo imagem de quem quer que seja.O compromisso da IURD é com a VERDADE e com a Palavra de Deus.Se coloca candidatos à cargos eletivos, faz tudo dentro da lei e só o faz em decorrência de intomissões da política na religião.Afinal, a recíproca também deveria ser verdadeira:Igreja não se mete em questões política e a política não se mete em questões de religião, ou seja “cada um no seu quadrado”…Diferente da igreja católica que quer se meter em tudo e impor tudo à todos, essa sim precisa que alguem a ensine respeitar o “quadrado alheio”.

  • Paulo Sérgio C Santos

novembro 1st, 2010 at 9:21

O Papa Bento XVI, Ratzinger, deveria cuidar do caso dos padres pedófilos. Este papa não tem moral nenhuma, pois na sua juventude fez parte da Juventude Hitlerista. Deve entender este senhor que o Estado Brasileiro é laico, e não pode incorporar valores religiosos, preconceitos religiosos a políticas de Estado. O que este senhor pretende é impor dogmas ultrapassados e reacionários ao Estado Brasileiro, tratando como seu quintal um país soberano. Bem, o recado foi dado nas urnas, e Dilma Rousseff foi eleita a primeira mulher presidenta do Brasil, e o aborto ( assunto secundário) deverá ser apreciado e deixar de ser crime como tipo penal ( descriminalizado). Isto não significa que quem engravida deve abortar, mas ter a liberdade de escolha.

  • Mauro Julio Vieira

novembro 1st, 2010 at 15:55

Se religião é uma praga eu não sei, mas sei que religião e ideologia se parecem bastante e até se confundem. São produtos da mente humana e a mente mente, ou não se chamaria mente. É mais um artifício humano para escravizar seu semelhante………
No século XIX Nietzsche comentou sobre uma ideologia, o socialismo, que surgiu nesta época, como uma substituição de velhas religiões e afirmou “O socialismo é o fantástico irmão mais novo do despotismo quase decrépito, de quem quer ser herdeiro; os seus esforços são portanto, reacionários no sentido mais profundo. Pois ambiciona uma plenitude de poder estatal como só, alguma vez, a teve o despotismo, e até ultrapassa todo o passado por aspirar expressamente à aniquilação do indivíduo: uma vez que este lhe aparece como um luxo injustifiçado da Natureza, que deve ser modificado e melhorado por ele, para se tornar um adequado órgão da comunidade”
No século seguinte, não deu outra, pois os países que adotaram essa religião retornaram à Idade Média, com direito à queima nas fogueiras, dos infiéis pela divina inquisição estatal.

Vejam – www.escolasensitivista.blogspot.com

Sobre Alemão

O governo mundial (USA) sufoca os governos do terceiro mundo levando suas populações à miséria e ao fanatismo religioso. Interferem em suas eleições, governos e nas suas leis, para ganharem cada vez mais poder econômico nas conquistas de mercados.
Esse post foi publicado em Sem categoria. Bookmark o link permanente.

Uma resposta para BENTO XVI e O ABORTO

Deixe um comentário